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sábado, 14 de janeiro de 2012

Sangue e Paixão

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Se há uma coisa que a vida nos ensina, é que há coisas que não adianta ensinar!
-A gente sempre erra!!!
São coisas que simplesmente acontecem, vão tomando conta, se instalam com vida própria e sem pedir licença, independem de nossa vontade!!!
Veja a paixão, por exemplo! O que leva uma pessoa a gostar de outra às vezes de forma doentia, absoluta, anemiante?
E como explicar a escolha por esta ou aquela pessoa?
Escolha?
O pior é que a gente não escolhe. De repente você acorda e ela está lá…no espelho, desafiando você e as suas razões! Pura discrasia...

As paixões costumam ser um dicionário do que não se deve fazer, um verdadeiro desastre! Como usar anti-coagulante para tratar a hemorragia!
Pra começo de conversa, gostamos de quem não nos quer... um complexo de antígeno e anticorpo... Temos propensão para nos apaixonar pela pessoa certa na hora errada, ou pela pessoa errada na hora certa! Às vezes as duas coisas ao mesmo tempo! Parece uma coisa meio masoquista, cíclica, um dejavu em circadiano...

A pior das paixões é presente nas relações desequilibradas...
Nada mais angustiante do que investir num relacionamento que não dá retorno, que exige que você fique alerta, que gera instabilidade constante. Você transforma-se em detetive de sua própria consciência, em fiscal de seus próprios sentimentos, em manipulador de contradições! Adquirimos o perverso dom de olhar as coisas pelo avesso como se o avesso fosse o direito, ou muito pelo contrário! Nessas horas, sem outro recurso capaz de restaurar a dignidade, recorremos à ironia e ao sarcasmo, atitude que, na maioria das vezes, destrói o que resta do sentimento. Entra-se numa via de mão única, sem respaldo lógico, mas paradoxalmente envolvente, viciada, suicida! Como uma cascata de coagulação... Uma busca no desconforto do prazer e do belo...

O complicador é que paixões não se medem em sistemas métricos, centesimais, mas em batimentos cardíacos e na temperatura do sangue!
Paixão verdadeira…uma doce agonia…um desafio à razão, uma esperança de vida…um veneno que, aos poucos e com cruel sutileza nos anestesia o discernimento!
Complica ainda mais quando o coração apaixonado domina, assume vida própria, uma neoplasia, seguindo pelo mundo, cego, subindo serras, desenfreado, deixando as consequências na conta da auto-estima!

Por que insistimos em ignorar os avisos que a vida dá?
Por que nos escondemos do bom senso e da razão e inventamos uma lógica insensata, uma maneira de sofrer com prazer, uma angústia ansiosamente esperada?
Freud explica?
Acho que nem ele... mas, pensando bem, que apaixonado quer explicações?

Às vezes parece que a paixão não passa de uma febre voraz, uma maluquice arrebatadora e inevitável, surgida na madrugada inesperada, cadela viralata... uma fatalidade quase maquiavélica e absolutamente irresistível! E essa é a melhor parte… a doença é ao mesmo tempo a cura! Quando percebemos a perda do respeito próprio, o desprezo dos princípios e da estima intelectual. Essa percepção, por si só, já é meio caminho andado para a cura!

Mas veja como são as coisas? Que farsa patética nosso coração encena em "produções independentes"!!!
Sem a menor cerimônia, ele corta o "d" no gerúndio, forjando sentimentos revirados, que nos consomem e nos viram do avesso, do avesso, do avesso...

Talvez a solução seja recuperar a capacidade de agir em defesa do que achamos certo, acabando com a angústia de estar tão perto da paixão mas tão longe de nós mesmos!!!

-Ou não...


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