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quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

O Sangue, Religião, Ciência e Vida

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[...] “pois a alma de todo tipo de carne é seu sangue pela alma nele. Por conseguinte, eu disse aos filhosde Israel:
- Não deveis comer o sangue de qualquertipo de carne, porque a alma de todo tipo de carne é seu sangue. Quem o comer será decepado [da vida].

Quanto a qualquer alma que comer um corpo morto ou algo dilacerado por uma fera, quer seja natural quer residente forasteiro, neste caso terá de lavar suas vestes e banhar-se em água, e ele terá de ser impuro até à noitinha; e ele terá de ser limpo.
Mas, se não as lavar e se não banhar sua carne, então terá de responder pelo seu erro” [...].

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A religião organiza e separa o espaço da vida comum do espaço sagrado e lhes dá qualidades culturais, contribui para o sistema de conhecimento dos homens e para a construção dos símbolos/ritos e seus significados.

...“as religiõesunem as pessoas em práticas e crenças comuns;aproximam-nas em um mesmo objetivo de vida, eser religioso significa tantas coisas para pessoastão diferentes, que freqüentemente unscontradizem os outros”.

Durante a minha prática profissional e em contato com algumas pessoas idosas, tenho tentado traduzir o significado do sangue e das transfusões sangüíneas.

#Para os idosos, é freqüente a expressão que o sangue significa vida e que sem sangue não há vida.
Recebendo sangue ficam mais fortes! Para as pessoas idosas, o sangue representa a vida, o que confere com o que se encontra nas literaturas pertinentes, as quais colocam que o sangue representa, como ícone, o símbolo da vida,o “fluxo vital”.

A perda do sangue tem mais significância que a perda da consciência, da respiração, dos movimentos e, por que não dizer,da vida. Apenas nos vivos este sangue flui; nos mortos, este sangue coagula, para, morre...

O sangue está sempre presente na vida social. A ele se reconheceu, muitas vezes, um misterioso poder de catalisador social: Os Bororos (indígenas quese denominam boe que, em sua língua quer dizergente, pessoa humana), são habitantes de várias aldeias em áreas descontínuas do vale do rio São Lourenço,no Mato Grosso, que se consideravam poluídos ( ou mesmo sujos ) em alto grau quando tinham um mínimo contato com o sangue,enquanto os Nambiquaras (indígenas habitantesde aldeias espalhadas em áreas descontínuas, entre os campos cerrados da Chapada dos Parecise as matas do vale do rio Guaporé, no MatoGrosso, e em Rondônia), consomem suas caças meio cruas e sanguinolentas.

Durante toda a história do homem, o sangue possui algum significado, na áreareligiosa:
Na era pagã, os nossos antepassados utilizavam sangue como sacrifício, provocando o derramamento para seus deuses.
Até mesmo hoje,o sangue ainda tem essa importância. Basta nosreferirmos à Igreja Cristã, onde na Eucaristiatemos como representação o corpo e o sangue de Cristo. ( Lembrando a todos que sou critão praticante e Presbiteriano por convição e Graça... )
Os gregos reconheciam o sangue como sustentáculo da vida. Os gladiadores romanos ingeriam sangue para ficarem mais fortes e corajosos.
O sangue, às vezes, é considerado impuro,e às vezes participa de ritos de purificação.
Em algumas ocasiõeslhe é atribuído valor regenerador e alguns o vêem como princípio vital; noutras oportunidades, é tido como portador de destruição e de desgraça.


Segundo Geertz:
,“O Homem é um animal amarrado às teias de significados que ele mesmo teceu”.


Assim, os significados atribuídos ao sangue refletem diretamente na transfusão sanguínea... e em todo o imaginário que ela apresenta, mesmo nos mais culturizados...

Quanta responsabilidade para nós médicos... que transfundimos, sangramos e vertemos sangue...

-Merecemos tanta honra???


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