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domingo, 15 de janeiro de 2012

Céu De Ícaro e De Galileu

...O céu de Ícaro tem mais poesia que o de Galileu
E lendo teus bilhetes, eu lembro do que fiz
Querendo ver o mais distante e sem saber voar
Desprezando as asas que você me deu


Tendo a lua aquela gravidade aonde o homem flutua
Merecia a visita não de militares,
Mas de bailarinos
E de você e eu...
(Paralamas - Tendo a Lua)



Meu problema de coluna e a consequente reclusão me fez enfrentar sublimações e descobrir prazeres indizíveis... Confesso que olhar minha "frota" de motocicletas, todas paradas, me corta o coração... Os cromados me convidam a passear, mas as vertébras me impédem... até de caminhar...

Mas para toda desventura existe uma contrapartida, um pagamento do destino, e este me presenteou com a minha mais nova paixão que é a astronomia ( mas que petulância a minha: chamar ver estrelas por um telescópio de astronomia...). Tenho, assumidamente, um perfil "obscessivo-compulsivo" e convivo bem com isso, tentando canalizar para algum proveito. Sendo assim, comprei alguns livros técnicos que foram devorados em dias, me transformando em neófito dos segredos celestes, um "aprendiz de feiticeiro" do Rogério Mourão - o pop star brasileiro da astronomia... A bem da verdade essa paixão teria me mordido quando numa madrugada estrelada, no interior do estado do Rio, por cima da Serra das Araras, descobri no meu telefone o Google Sky Viewer... Uau!!! estrelas brilhavam ao meu alcance... e no céu, outras tantas...

O céu de Ícaro é o céu dos mitos e do trágico...
Ícaro é filho de Dédalo, que, entre outras coisas, como o labirinto do Minotauro, fez asas de penas e cera para voar. Ícaro as foi testar. Desdenhou da recomendação paterna em sua ânsia juvenil de explorar o desconhecido e se aproximou do Sol. Um apaixonado... e como todo sentimento ardente e inconsequente, também é irresponsável... O calor derreteu a cera, e, ao final de sua provocação desmedida, ele se espatifou no mar, morrendo.

O final trágico de Ícaro, jogando-se ao Sol é poesia pura.

O céu de Galileu é aquele no qual o cientista, com lupas, telescópios e satélites, observa o espetáculo das leis da física que regem o destino igualmente trágico do universo, cujo parto de si mesmo – conjuntamente com o nascimento do espaço e do tempo – se dá em uma explosão cujos rastros que estudamos pelo ruido do Big Bang (a chamada radiação cósmica de fundo).

Particularmente, como cristão, vejo mais poesia num Criador e sua criação que numa reação de núcleos atômicos...

O céu que Galileu descortinou não é o céu plácido dos namorados. É um céu catastrófico, violento, onde as leis da física são levadas a extremos... com destinos cruéis... As estrelas são palco de uma luta intensa entre a força de autogravitação, que tende a comprimi-las, eas reações nucleares em seu interior, que equilibram a gravitação.

Quando o combustível nuclear se esgota, algumas escurecem lentamente, e outrasexplodem em morte violenta. Dependendo da massa da estrela, a explosão que a aniquila deixa um cadáver distinto, que necropsiamos com nossos satélites... As mais massivas terminam como buracos negros ou estrelas de nêutrons – uma colher de chá da massa destas últimas pesaria mais do que um bilhão de toneladas. As menos massivas acabam como estrelas diminutas, anãs brancas.

O céu que vejo é o céu de minha memória, das serras... do meu Recife... O mesmo céu do recifense Manuel Bandeira (este sim, por amor, falava com estrelas )... O céu de Galileu, com seus fenômenos catastróficos, de tão desmesurado, dificilmente poderia ser sonhado por um poeta, ou mesmo por um "astrônomo plégico de varanda"...

Quero o céu de Ícaro... apaixonado pelo inatingível sol...

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