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domingo, 24 de junho de 2012

A Medicina Não Examinada Não Merece Ser Exercida







A Medicina será completa quando interligar o estudo científico do homem e seus valores humanos... A Medicina será completa ao oferecer um campo para a resolução entre abstrato e o concreto, entre as ciências e toda a humanidade... a procura do conhecimento e a procura do bem-estar...

Dr. Assuero Silva - Por uma Medicina Sustentável - Rio + 20, 21/06/12











O ser humano é biologicamente frágil... Apesar da complexidade de seu funcionamento e da constante evolução científica afim da preservação da espécie, bastam, por exemplo 3 a 5 minutos com supressão de oxigênio que iniciaremos lesões cerebrais possivelmente irreversíveis, basta o contato com alguns vírus mais "virulentos", que comprometeríamos milhares de vidas em poucos dias. Bastam exposições demasiadas ao frio, ao calor, a seca ou a umidade excessiva. Não bastasse tudo isso, sofremos pela inanição ou pelo contrário, pelo excesso de comida... Ou seja: Somos fragilmente "embalados" apesar de maravilhosamente construídos...

Entretanto, a capacidade da medicina moderna é tão impressionante e penetrante que todos nós médicos somos impactados pela maneira que construímos a medicina e justificamos suas finalidades e seus propósitos, por vezes perdendo o tênue limite entre ser o salvador ou o algóz do que definimos cuidar.

Cabe a medicina e seus executores o papel de entender os mecanismos existentes no processo das morbidades e seu alívio ou cura. Cabe ao médico evitar a extinção do ser humano, aliviar suas angústias, ou dores e colaborar nas medidas preventivas. Quando me deparo com um jovem médico ( por vezes um ex-aluno ou um ex-tutorado ) que não exerce estes princípios básicos e usa sua carreira para ascensão social ou política ou ainda que utiliza de seu sua influência médica para em benefício próprio angariar fundos com práticas médicas contestáveis e não científicas, eu me sinto traído!

A ciência médica em detrimento das outras é uma das mais nobres e mais apaixonantes de ser exercida... Para isso temos que senti-la... Sua profundidade, o que ela representa... Vivencia-la, participando ativamente do processo de vida e morte de outro ser humano... As vezes devido a esta complexidade surgem muitas frustrações, conflitos e todo dissabor que uma relação profundamente intima proporciona...

Ser médico não é ter uma postura soberba e intocável, não é vestir o tradicional branco, jaleco, pijama cirúrgico ou usar uma gravata importada e por isso sentir-se diferente dos demais... Ser médico não é falar pausadamente com frases prontas e linguajar erudito, vivendo em função de uma imagem. Ser médico é aceitar desafios diários e obrigações impensáveis... Ser médico é ser salva-guarda da raça homana e humildemente sentir o peso e a responsabilidade disso tudo...

Noites insones, livros, artigos, revistas, resumos... buscas por diagnósticos pouco claros... o constante assédio da indústria farmacêutica, gerando um conhecimento (?) pleno de interesses velados e escusos... Por outro lado as rotinas massacrantes, muitas vezes com queixumes que representam muito mais doenças "preveníveis" ou impensáveis no século XXI... verdadeiras patologias sociais advindas da doença moral de nossos políticos e de nossas políticas...
Rotas, Rotinas, Protocolos e Planilhas... gerando indicadores ... que talvez não gerem saúde ... mas seguramente nos afastam mais e mais da beira dos leitos e do olhar dos pacientes...

Examinar diuturnamente a medicina e refletir filosoficamente sobre a vida é um exercício de humanidade, buscando evoluir nas relações mas principalmente buscando a evolução da sociedade e o quão saudável ela pode ser...




Na mitologia, Asclépio o "Pai da Medicina" aprendeu a arte de curar... Tornou-se mestre... Ensinou... Desafiou a morte... Foi condenado a sair do Olimpo... Levado ao Hades (um inferno)... Resgatado, habita  nas estrelas e caminha entre os homens, ensinando medicina e aliviando-nos das doenças...

Que uma "Asclépio" maior nos faça sair do Olimpo nebuloso de convencimento e nos leve ao estado de reflexão permanente da Ciência-Arte que é a verdadeira medicina... Sem as tentações mercantilistas, financeiras ou das "superespecializações"... que é o caminho certeiro ao Hades de ignorância e desprezo à humanidade.




Medicina é ciência, arte e virtude, integralmente unidas nas atividades diárias do médico. Desarticular um dos membros dessa tríade é desmembrar a Medicina - cuja característica essencial é relação especial que une um ao outro. Quando isso acontece, ai poderemos ter um cientista, um artista ou um prático, mas jamais teremos um médico.

Edmund Pellegrino - The Anatomy of Clinical Judjments 

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