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Amar: *
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Fechei os olhos para não te ver
e a minha boca para não dizer...
E dos meus olhos fechados desceram lágrimas que não enxuguei,
e da minha boca fechada nasceram sussurros
e palavras mudas que te dediquei...
O amor é quando a gente mora um no sangue do outro. ( M. Quintana )
Um dos valores mais arraigados de nossa cultura é o da consanguinidade, ou seja, o da descendência ou parentesco pelo "sangue".Nossa árvore genealógica... Embora hoje recoberta pela ideia dos genes, essa representação "sanguínea" nos liga pessoa-a-pessoa numa base naturalista de nossa visão de mundo:
-Somos feitos da matéria combinada de nossos pais e mães; eles, de seus respectivos pais e mães, e assim até chegarmos em Adão e Eva...
Mas no final de contas quem é realmente parte de nosso sangue?
A cultura ocidental privilegiou um sistema chamado de
bilateral, pois consideramos consanguíneos todos os parentes pelo lado do pai e da mãe e a
afinidade se restringe aos parentes da esposa (ou esposo, evidentemente),
encontrados provavelmente nos termos da ‘ideologia do amor’.
Essa é uma das "ancoragens" históricas para nossa
representação dos vínculos de sangue. Um pouco de um lado, outro pouco do
outro, e estamos engatados em uma árvore genealógica frondosa, com galhos
idênticos de ambos os lados...A pergunta continua: Quem faz parte do meu sangue?
As tramas do parentesco são, porém, muito mais complexas do
que apenas a regulação da procriação...
Muito mais do que um simples transmitir o sangue...
Elas lidam com os fatos da procriação,
mas também envolvem redes de significado muito elaboradas, carregadas de tensões
e conflitos, e muito estranhas aos nossos olhos...
Há sociedades poligâmicas; há sociedades que praticam o infanticídio generalizado, com
adoção de filhos de uma casta escrava; há sociedades que praticam a reprodução
incestuosa sistemática em suas casas reais; há sociedades em que casamentos
homossexuais das elites se combinam com a adoção de descendentes oficiais
nascidos na plebe; há sociedades em que o primeiro filho de uma mulher deve ser
gerado por um amante cuja identidade deverá permanecer secreta para o filho; e
assim por diante...
Nós, brasileiros, latinos, ocidentais não consideramos estranhos, no entanto, os nossos
próprios costumes, que tendem a desvalorizar as adoções, por exemplo, e que
levam muita gente a gastar rios de dinheiro e rios de lágrimas para
conseguir levar a cabo uma gravidez assistida (inseminação artificial,
barriga de aluguel etc...) que lhes garantirá um herdeiro "de sangue", "legitimo"...
-Temos medo de sermos considerados "ilegítimos" ou "bastardos"... De não termos o sangue de nossos pais...
Todas as coisas são interligadas, como o sangue que nos une.
O homem não tece a teia da vida. Ele é apenas um fio dela.
O que fizer à teia, fará a si mesmo. ( Chefe Seattle )
De todas as formas sou filho, irmão, primo, tio "de sangue" de muitos... e tenho meu sangue correndo unido no coração de alguns... Pois esse é o verdadeiro laço de sangue, aquele que não refere cosanguinidade como marco ou qualquer laço genético como ícone, posto que a verdadeira união surge das graciosas teias do amor...
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