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segunda-feira, 4 de junho de 2012

Sangue do Meu Sangue

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Amar: 
Fechei os olhos para não te ver
e a minha boca para não dizer...
E dos meus olhos fechados desceram lágrimas que não enxuguei,
e da minha boca fechada nasceram sussurros
e palavras mudas que te dediquei...
O amor é quando a gente mora um no sangue do outro. ( M. Quintana )



















Um dos valores mais arraigados de nossa cultura é o da consanguinidade, ou seja, o da descendência ou parentesco pelo "sangue".Nossa árvore genealógica... Embora hoje recoberta pela ideia dos genes, essa representação "sanguínea" nos liga pessoa-a-pessoa numa base naturalista de nossa visão de mundo: 
-Somos feitos da matéria combinada de nossos pais e mães; eles, de seus respectivos pais e mães, e assim até chegarmos em Adão e Eva...


Mas no final de contas quem é realmente parte de nosso sangue?

A cultura ocidental privilegiou um sistema chamado de bilateral,  pois consideramos consanguíneos todos os parentes pelo lado do pai e da mãe e a afinidade se restringe aos parentes da esposa (ou esposo, evidentemente), encontrados provavelmente nos termos da ‘ideologia do amor’.
Essa é uma das "ancoragens" históricas para nossa representação dos vínculos de sangue. Um pouco de um lado, outro pouco do outro, e estamos engatados em uma árvore genealógica frondosa, com galhos idênticos de ambos os lados...


A pergunta continua: Quem faz parte do meu sangue?

As tramas do parentesco são, porém, muito mais complexas do que apenas a regulação da procriação...
Muito mais do que um simples transmitir o sangue...
Elas lidam com os fatos da procriação, mas também envolvem redes de significado muito elaboradas, carregadas de tensões e conflitos, e muito estranhas aos nossos olhos...
Há sociedades poligâmicas; há sociedades que praticam o infanticídio generalizado, com adoção de filhos de uma casta escrava; há sociedades que praticam a reprodução incestuosa sistemática em suas casas reais; há sociedades em que casamentos homossexuais das elites se combinam com a adoção de descendentes oficiais nascidos na plebe; há sociedades em que o primeiro filho de uma mulher deve ser gerado por um amante cuja identidade deverá permanecer secreta para o filho; e assim por diante...

Nós, brasileiros, latinos, ocidentais não consideramos estranhos, no entanto, os nossos próprios costumes, que tendem a desvalorizar as adoções, por exemplo, e que levam muita gente a gastar rios de dinheiro e rios de lágrimas para conseguir levar a cabo uma gravidez assistida (inseminação artificial, barriga de aluguel etc...) que lhes garantirá um herdeiro "de sangue", "legitimo"... 
-Temos medo de sermos considerados "ilegítimos" ou "bastardos"... De não termos o sangue de nossos pais...


Todas as coisas são interligadas, como o sangue que nos une.
O homem não tece a teia da vida. Ele é apenas um fio dela.
O que fizer à teia, fará a si mesmo. ( Chefe Seattle )

De todas as formas sou filho, irmão, primo, tio "de sangue" de muitos... e tenho meu sangue correndo unido no coração de alguns... Pois esse é o verdadeiro laço de sangue, aquele que não refere cosanguinidade como marco ou qualquer laço genético como ícone, posto que a verdadeira união surge das graciosas teias do amor...

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