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sábado, 31 de dezembro de 2011

A Dor do Sangue

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Eu prefiro a dor visível,
a dor que apareça,
dessas que, alguém vendo, não esqueça,
que mostre o quadro como o mais horrível.

Eu prefiro a dor pra fora,
dor de uso externo,
que cause a impressão a toda a hora
de sofrimento eterno.

O sofrimento oculto é degradante,
a dor que não se vê não causa piedade.
É preciso caridade
para entender a dor sem comprovante.

A dor boa é a dor do sangue,
muito sangue jorrando da ferida,
fazendo crer ao sofredor exangue
que pelo corte se lhe vai a vida.

O sofrimento é sempre uma resposta.
ante os horrores da fratura exposta.

Francamente, a dor que me atormenta
é vil e tão ferina em covardia,
que apenas se apresenta
ante as vidraças da tomografia.

Dor que se preze, dor que se sustente
precisa chaga grande ou talho aberto.
De certa forma conforta o paciente
a visão do sangue drenando do incerto.

Sim, a visão conforta.
É pelos olhos que se esvai a vida.
Quando o olhar se afunda na ferida
é que se entende a natureza morta.

Por isso, não confio em sofrimento
que devore as entranhas, sem ser comprovado.
Sem a visão do sangue, ao sofrimento lhe restará ser resignado...

Assuero Silva
(tentando sublimar a dor)


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