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quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

A DOENÇA TOTAL OU A DOENÇA COMO PARTE DA VIDA HUMANA...

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Clínica do sujeito...



Clínica do Sujeito?

Sim... uma clínica centrada nos Sujeitos, nas pessoas reais, em sua existência concreta, inclusive considerando-se a doença como parte destas existências. No entanto, a medicina não somente trabalha com um "entendimento geral" das enfermidades, como acaba por tomar as pessoas por suas doenças. Seria como se a doença ocupasse toda personalidade, todo o corpo, todo o Ser do doente.

Seu João da Silva desapareceria para dar lugar a um psicótico, ou a um hipertenso, ou a um canceroso, ou a um poliqueixoso ( quando não acertamos imediatamente o diagnóstico ). Fala-se até em uma arte psicopatológica para se referir as pinturas elaboradas por doentes mentais, como se a doença substituisse a mente, o cérebro, a vontade, todo o Ser do enfermo. Para a medicina a essência do Sujeito seria esvaziada pela doença, a qual ocuparia o seu lugar após a cura...

Para a medicina haveria um apagamento de todas as outras dimensões existenciais ou sociais do enfermo, a doença o recobriria como uma segunda pele, uma nova identidade. As pessoas deixariam de ser velhas, jovens, pais ou mães, trabalhadores, aposentados ou desempregados, músicos ou professores, e todos seriam enfermos de alguma coisa, assim, pouco importaria lidar com a doença como um dos componentes destas existências concretas. Não são sequer levantadas questões sobre como combinar uma dada enfermidade e o Ser concreto acometido ( Seu João da Silva que é hipertenso ), como combinar o enfrentamento de uma determinada doença com a luta contra o desemprego, o combate a uma certa enfermidade com o cumprimento de funções maternas, o cuidado e tratamento de um dado mal-estar com a conservação de algum conforto e de algum prazer.

Esta polêmica haveria que se estabelecer com a Clínica, sem o que nunca haveria Clínica reformada e muito menos ampliada. Uma enfermidade perturba, transforma e até mata Sujeitos, contudo, apenas raramente, liqüida com todas as demais dimensões da existência de cada um. Assim, hipertensões arteriais semelhantes segundo critérios clínicos tradicionais, teriam conseqüências e gravidades distintas conforme o Sujeito e o Contexto em questão. A Clínica se empobrece toda vez que ignora estas inter-relações, perdendo capacidade de resolver problemas estritamente clínicos, inclusive.
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Um comentário:

  1. Tomar o sujeito pela doença é um sintoma de sua profissão, meu caro amigo. Fico feliz com os herois raros da resistencia a esta postura dentre os quais incluo você. Sds, Lili - paciente impaciente

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